terça-feira, 23 de setembro de 2008

NÃO SEJA O MESMO

Você sabe tão bem quanto eu,
que uma das principais causas do tédio
é a estreiteza do nosso destino.
Todas as manhãs, despertamos iguais
ao que éramos na véspera.
Ser eternamente o mesmo
é insuportável para os espíritos
refinados pela reflexão.
Sair do próprio eu é um
dos sonhos mais inteligentes
que um homem pode ter.


uma verdade crua é

melhor do que passar

uma vida toda de farsa...

se bem q eu gosto dessa

comédia toda...

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

EM LINHA RETA

Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porca, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente suja,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridícula, absurda,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotescoa, mesquinha, submissa e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calada,
Que quando não tenho calado,
tenho sido mais ridícula ainda;
Eu, que tenho sido cômico aos coleguinhas do trabalho,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu,
me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.
Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...
Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado,
mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência,
mas uma covardia!
Não, são todos o Ideal, se os ouço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse
que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,
Arre, estou farta de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?
Então sou só eu que é vil e errônea nesta terra?
Não basta abrir a janela para ver os campos e o rio.
Não é bastante não ser cego para ver as árvores e as flores.
É preciso também não ter filosofia nenhuma.
Com filosofia, não há árvores, há idéias apenas.
Há só cada um de nós como uma cave.
Há só uma janela fechada, e todo mundo lá fora.
E um sonho do que se poderia ver se a janela se abrisse,
que nunca é o que se vê quando se abre a janela.

FOTOOOOOO

Difícil fotografar o silêncio.Entretanto tentei. Eu conto:Madrugada, a minha aldeia estava morta. Não se via ou ouvia um barulho, ninguém passava entre as casas. Eu estava saindo de uma festa,.Eram quase quatro da manhã. Ia o silêncio pela rua carregando um bêbado. Preparei minha máquina.O silêncio era um carregador?Estava carregando o bêbado.Fotografei esse carregador.Tive outras visões naquela madrugada. Preparei minha máquina de novo. Tinha um perfume de jasmim no beiral do sobrado. Fotografei o perfume. Vi uma lesma pregada na existência mais do que na pedra.Fotografei a existência dela.Vi ainda um azul-perdão no olho de um mendigo. Fotografei o perdão. Olhei uma paisagem velha a desabar sobre uma casa. Fotografei o sobre.Foi difícil fotografar o sobre. Por fim eu enxerguei a nuvem de calça.Representou pra mim que ela andava na aldeia de braços com maiakoviski – seu criador. Fotografei a nuvem de calça e o poeta. Ninguém outro poeta no mundo faria uma roupaMais justa para cobrir sua noiva.A foto saiu legal.