quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

NÃO ENTENDO...

Isso é tão vasto que ultrapassa qualquer entender.
Entender é sempre limitado. Mas não entender pode não ter fronteiras.
Sinto que sou muito mais completa quando não entendo.
Não entender, do modo como falo, é um dom.
Não entender, mas não como um simples de espírito.
O bom é ser inteligente e não entender.
É uma benção estranha, como ter loucura sem ser doida.
É um desinteresse manso, é uma doçura de burrice.
Só que de vez em quando vem a inquietação:
quero entender um pouco.
Não demais: mas pelo menos entender que não entendo.

OUÇA O TAMBOR

Você está sozinho, com sua mente cheia de ruídos.
Caminhando pelas ruas, a noite envolve seu corpo.
Você apenas vê apenas o suficiente para não tropeçar nas calçadas.
Por um instante, você escuta um som quase tão vago quanto seus dias.
Você presta mais atenção.
Percebe que é um som ritmado como o de um tambor.
Você olha para trás e não enxerga nada.
Pensa que está escutando as batidas de seu coração.
O som aumenta um pouco mais.
A cadência é a de seus passos.
Você caminha e o som aumenta mais.
Quando seu calcanhar toca o solo, o tambor bate junto.
O som vai ficando cada vez mais alto até fazer estremecer sua pele.
Sua mente elimina os pensamentos vãos e você caminha cada vez mais forte.
Quando o som atinge suas entranhas e ossos, você sente uma vontade irresistível de correr.
Mas você não corre.
Apenas pára e olha para o universo a seu redor.
Você mira as estrelas, ergue seus braços e grita seu nome até que todos os ruídos e dúvidas se dissipem e você volte a ser aquilo que sempre foi ou deveria ser.
A liberdade,
como
a felicidade,
é nociva
para um
e útil
para
outro.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

A anarquista
que há em mim se junta com
o ingênuo que há em você
e propõe: "vamos fazer uma República Utópica?".
O princípio da realidade
passa com a sirene aberta,
pára e nos autua
em flagrante.
Como é por dentro outra pessoa?
Quem é que o saberá sonhar?
A alma de outrem é outro universo, com que não há
comunicação possível, nem há verdadeiro entendimento.
Nada sabemos da alma, senão da nossa.
As almas dos outros são olhares, são gestos,
são palavras, supondo-se qualquer semelhança no fundo.
Entendemo-nos porque nos ignoramos.
A vida que se vive é um desentendimento fluido,
uma média alegre entre a grandeza que não há e a felicidade que não pode haver.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009


O cansaço que agora sinto
é compensado pelo seu doce sorriso
que tenho constantemente em minha mente.

Fase de amadurecimento...isso é constante

e mais tempo e mais sorrisos e

mais um mundo de turbilhões de emoções!

APENAS QUERO ME IMPORTAR COM

SUA ESSÊNCIA E NADA MAIS!

...05 pontos para mim :D...

IMPOSSÍVEL DE MUDAR???

Não aceiteis o que é de hábito como coisa natural,

pois em tempo de desordem sangrenta,

de confusão organizada,

de arbitrariedade consciente,

de humanidade desumanizada,

nada deve parecer natural,

nada deve parecer impossível de mudar.
Eu ainda não topei pessoalmente com a morte.
Talvez porque , em princípio, eu conte com ela.
É uma solução ao que somos ao acabar com
o corpo pelo qual somos.
Não há nada mais irrecuperável
que um cadáver e fomos nós.
A frase, o ser que vínhamos encontrando e perdendo,
desde a infância, dá com o ponto e se completa.
Formará sentido?

BUROCRATAS...

...te advertem que a aurora
foi abolida por tempo indeterminado.
Comunicam-te que o trigo e o vento
serão exportados para o arco-íris.
Aconselham-te a esquecer o corpo ensangüentado
dos acontecimentos.
Eles te ensinam que o orvalho
não cai sobre aqueles que semeiam dúvidas.
Mandam esvaziar tuas palavras de
toda a possível reminiscência.
Eles te fiscalizam do alto dos edifícios,
escanchados nalgum dragão lunar.
Eles te dão um ataúde azul
e te ordenam que é tempo de morrer.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

RECEITA PARA LAVAR ROUPA SUJA


Mergulhar a palavra suja em água sanitária depois de dois dias de molho,
quarar ao sol do meio dia.
Algumas palavras quando alvejadas ao sol adquirem consistência de certeza.
Por exemplo a palavra vida.
Existem outras, e a palavra amor é uma delas,
que são muito encardidas pelo uso,
o que recomenda aguar e bater insistentemente na pedra,
depois enxaguar em água corrente.
São poucas as que resistem a esses cuidados,
mas existem aquelas.
Dizem que limão e sal tiram sujeira difícil, mas nada.
Toda tentativa de lavar piedade foi sempre em vão.
Agora nunca vi palavra tão suja como perda.
Perda e morte na medida que são alvejadas soltam um líquido corrosivo,
que atende pelo nome de argura, que é capaz de esvaziar o vigor da língua.
O aconselhado nesse caso é mantê-la sempre de molho
em um amaciante de boa qualidade.
Agora, se o que você quer é somente aliviar as palavras do uso diário,
pode usar simplesmente sabão em pó e máquina de lavar.
O perigo neste caso é misturar palavras que mancham
no contato umas com as outras.
Culpa, por exemplo, a culpa mancha tudo que encontra e deve ser sempre alvejada sozinha.
Outra mistura pouco aconselhada é amizade e desejo,
já que desejo, sendo uma palavra intensa,
quase agressiva, pode, o que não é inevitável, esgarçar a força delicada da palavra amizade.
Já a palavra força cai bem em qualquer mistura.
Outro cuidado importante é não lavar demais as palavras sob o risco de perderem o sentido.
A sujeirinha cotidiana quando não é excessiva, produz uma oleosidade que dá vigor aos sons.
Muito importante na arte de lavar palavras é saber reconhecer uma palavra limpa.
Conviva com a palavra durante alguns dias.
Deixe que se misture em seus gestos, que passeie pela expressão dos seus sentidos.
À noite, permita que se deite, não a seu lado mas sobre seu corpo.
Enquanto você dorme, a palavra, plantada em sua carne, prolifera em toda sua possibilidade.
Se puder suportar essa convivência até não mais perceber a presença dela,
então você tem uma palavra limpa.
Uma palavra limpa é uma palavra possível.
Nós não podemos falar nada sobre nós e a nossa época,
sem começarmos por definir a loucura.
Como é que se explica que nós sejamos seres dotados de razão,
enquanto a nossa sociedade é tão ligada à loucura?
Como as pessoas que tem toda a sua razão podem agir
como se estivessem loucas e
acreditar nas idéias loucas que a sociedade lhe impõe?
Nós podemos encontrar uma resposta com aqueles que perderam a razão.
O que é que os deixou loucos?

As pessoas ficam assim quando
não chegam a criar uma relação funcional
e prática com a sociedade e com a realidade.
O que eles fazem?
Eles criam uma sociedade
que é uma realidade para eles.
Eles ficam loucos para não perder a sua razão.
A sua loucura é a explicação que
eles dão para a loucura que eles encontram no mundo.
Em que pensa o homem-bomba
no exato momento de soltar o pino
e estancar o tempo?
Em que pensa o homem-bomba
na hora imensa em que o sangue
se adensa e todos os sóis, e todos os poros,
e todas as luas do universo projetam
forças vorazes de gravitação
na explosiva nave de seu coração?
Em que veia-cava o medo
crava seus tentáculos?
Em qual infinitésimo de segundo
a mão trêmula avança para o pino
e vence a inércia do ser vivo
que deseja permanecer semente,
não de idéias, mas de carne viva?
Que existe mais,

senão afirmar a multiplicidade do real?

A igual probabilidade dos eventos impossíveis?

A eterna troca de tudo em tudo?

A única realidade absoluta?

Seres se traduzem.

Tudo pode ser metáfora de

alguma outra coisa ou de coisa alguma.


Tudo irremediavelmente metamorfose!
O mistério
da mulher
está em
cada afirmação
ou abstinência,
na malícia
das plausíveis
revelações,
no suborno
das
silenciosas
palavras.
É proibido chorar sem aprender,
Levantar-se um dia sem saber o que fazer
Ter medo de suas lembranças.
É proibido não rir dos problemas
Não lutar pelo que se quer,
Abandonar tudo por medo,
Não transformar sonhos em realidade.
É proibido não demonstrar amor
Fazer com que alguém pague por tuas dúvidas e mau-humor.
É proibido deixar os amigos
Não tentar compreender o que viveram juntos
Chamá-los somente quando necessita deles.
É proibido não ser você mesmo diante das pessoas,
Fingir que elas não te importam,
Ser gentil só para que se lembrem de você,
Esquecer aqueles que gostam de você.
É proibido não fazer as coisas por si mesmo,
Não crer em Deus e fazer seu destino,
Ter medo da vida e de seus compromissos,
Não viver cada dia como se fosse um último suspiro.
É proibido sentir saudades de alguém sem se alegrar,
Esquecer seus olhos, seu sorriso, só porque seus caminhos se desencontraram,
Esquecer seu passado e pagá-lo com seu presente.
É proibido não tentar compreender as pessoas,
Pensar que as vidas deles valem mais que a sua,
Não saber que cada um tem seu caminho.
É proibido não criar sua história,
Deixar de dar graças a Deus por sua vida,
Não ter um momento para quem necessita de você,
Não compreender que o que a vida te dá, também te tira.
É proibido não buscar a felicidade,
Não pensar que podemos ser melhores,
Não sentir que sem você este mundo não seria igual.
É Proibido
É proibido chorar sem aprender,
Levantar-se um dia sem saber o que fazer
Ter medo de suas lembranças.
É proibido não rir dos problemas
Não lutar pelo que se quer.
O escritor vive.
Ninguém é escritor das oito ao meio-dia e das duas às seis.
Quem é poeta é poeta sempre, e se vê continuamente assaltado pela poesia.
Assim como o pintor é assediado pelas cores e pelas formas,
assim como o músico se sente procurado pelo estranho mundo dos sons
(o mundo mais estranho das artes),
o escritor deve pensar que tudo é argila,
com que fará da miserável circunstância de
nossa vida alguma coisa que possa aspirar à eternidade.
Não devemos jamais imaginar
que a razão possa alcançar a popularidade.
Paixões e sentimentos podem se tornar populares,
mas a razão sempre permanece restrita a poucos.