sábado, 16 de maio de 2009

Que pode uma criatura senão,entre criaturas, amar?
amar e esquecer,amar e malamar,amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados amar?

Que pode, pergunto, o ser amoroso,sozinho, em rotação universal,
senão rodar também, e amar?
amar o que o mar traz à praia, o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?

Amar solenemente as palmas do deserto, o que é entrega ou adoração expectante,e amar o inóspito, o cru,um vaso sem flor, um chão de ferro, e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e uma avede rapina.

Este o nosso destino: amor sem explicação, distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,doação ilimitada a uma completa ingratidão,e na concha vazia do amor a procura medrosa,paciente, de mais e mais amor.

Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossaamar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita.

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